Caneladas: Morumbi, boatos e fatos.
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Por Juzerley Santos
Está aberta a temporada de caneladas e jogo sujo para definir qual cidade assumirá a primazia de realizar a abertura do Mundial de 2014 e ser uma das sedes da Copa das Confederações em 2013 (evento realizado como prévia da Copa). Finalmente depois de meses de boatos e versões a Fifa oficializou o veto ao estádio do Morumbi para ser sede na Copa do Mundo de 2014.
A Fifa e a CBF sempre demonstraram que preferiam a construção de um novo estádio e por isso, às vezes explicita, às vezes dissimuladamente, agiram com rigor e intransigência. Mas não foram os problemas e defeitos de um estádio antigo que tiraram o Morumbi da Copa de 2014, pois estádios mais modernos, porém com defeitos semelhantes têm sido permitidos pela toda-poderosa do futebol mundial.
O veto na verdade é resultado de poderosos interesses que pretendem lucrar com a especulação imobiliária e significa a farra com o dinheiro público com a construção de um novo estádio na região metropolitana de São Paulo. O custo estimado para uma empreitada deste porte é por volta de R$ 1 bilhão! No final a conta será paga pelo trabalhador brasileiro.
O valor estimado do projeto são-paulino era de R$ 630 milhões, o São Paulo bem que tentou, mas não conseguiu as garantias financeiras, apesar do apoio declarado, mas não efetivo de autoridades como o presidente Lula, o ex-governador de SP José Serra e até o ministro dos Esportes Orlando Silva. Por fim, o clube fez um projeto mais barato, no valor aproximado de R$ 265 milhões, mas a Fifa nem se dispôs a examiná-lo.
Como o governo federal já disse que não vai colocar dinheiro público em estádios particulares como o do São Paulo um novo projeto vem sendo aventado. Seria um estádio público para 60 mil torcedores, parte de um complexo que ainda prevê um centro de convenções multimídia. O projeto definitivo só não saiu ainda, porque o presidente do Corínthias e atual chefe da delegação brasileira na África do Sul, Andres Sanchez, apesar de suas relações íntimas com o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, se recusa a ficar com um estádio deste tamanho, sabidamente deficitário para os padrões brasileiros. O presidente corintiano (e atual chefe da delegação brasileira na África do Sul) tenta regatear e conseguir a redução do tamanho do estádio para 45 mil pagantes.
Quem paga a conta?
Não se pode concordar com esta desfaçatez de cartolas e empreiteiros em construir estádios apenas para fazer um ou dois jogos na Copa do Mundo e nem na cara de pau de governantes e políticos que só querem ganhar com a realização de obras faraônicas. Ainda mais no país do futebol que já conta com tantos estádios espalhados pelo território nacional. Será um desperdício de recursos públicos tão necessários em áreas sociais já tão sucateadas como saúde, educação e habitação.
Os custos finais são sempre muito superiores aos custos iniciais que norteiam as analises de viabilidade financeira. Os exemplos são evidentes: Nas Olimpíadas de Atenas os custos estimados eram de US$ 1,5 bilhões e acabou custando US$ 15 bilhões, dez vezes mais! Na Copa da África, tem sido ainda pior, pois os custos iniciais orçados em US$ 300 milhões e ficou acima dos US$ 4 bilhões.
A conta final da Copa do Mundo ficará em torno de US$ 8 bilhões de dólares, levando-se em conta que o PIB sul-africano mal chega aos US$ 3 bilhões certamente a conta acabará no bolso dos trabalhadores.
A entidade máxima do futebol obriga o país que recebe o evento a conceder inúmeros incentivos fiscais que beneficiam a entidade e seus “patrocinadores”. Na África do Sul a FIFA exigiu e recebeu garantias por escrito de que não pagará impostos sobre a comercialização de produtos, direitos de transmissão e quase todas as formas de receita ligadas à Copa. O mesmo está sendo encaminhado para a Copa de 2014 no Brasil.
Enquanto a “dona” FIFA e as Confederações ligadas a ela abarrotarão ainda mais seus cofres sem se ter de arcar com custo nenhum, o prejuízo é certo para o país anfitrião. Passada a Copa a África do Sul, um país em desenvolvimento industrial e econômico, mas extremamente pobre e que sofre com inúmeros problemas sociais, terá que arcar com as dividas que ficarem. A considerar o que passa a Grécia hoje, o futuro sul-africano é sombrio.
E o tão falado legado?
Uma das principais justificativas para convencer o povo brasileiro da realização da Copa do Mundo, e mesmo das Olimpíadas aqui tem sido a que estes eventos deixarão um legado para o povo.
Na verdade o único legado deixado pelos grandes eventos esportivos está totalmente relacionado às obras de infra-estrutura. Obras necessárias e que deveriam ser realizadas com ou sem o evento.
No diz respeito as reformas e construção de novas arenas, mesmo com paixão popular pelo futebol, os estádio brasileiros tendem a virar verdadeiras ruínas pós-modernas.
Não existe nenhuma exigência, nos tais “cadernos de encargos”, de que todas as cidades sedes deveriam apresentar planos de viabilidade financeira e de utilização pública de suas praças esportivas.
No final, eventos deste porte só compensam para seus “donos” e deixam como “grande legado” dívidas enormes que serão pagas pela população.
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