PSTU na arquibancada

Para quem torce e luta. Não necessariamente nesta ordem...

9.7.10

Futebol e Geopolítica: A Guerra do futebol



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Por Juzerley Santos

Me desculpem o atraso do texto pois era para publicar quando de uma partida de Honduras, mas é que eu o havia perdido em algum lugar do ciberespaço; mas fica valendo a "intenção da semente"...

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o esporte internacional tornou-se [...] uma expressão de luta nacional, com esportistas representando seus Estados ou nações, expressões fundamentais de suas comunidades imaginadas. [...] A imaginária comunidade de milhões parece mais real na forma de um time de onze pessoas com um nome.”
Eric Hobsbawn
Futebol e Guerra
Com seu poder de mobilizar milhões por todo mundo o futebol, mais do que outros esportes, é um retrato da sociedade moderna. Capaz até mesmo de provocar uma guerra.
Foi o que aconteceu em 1969 entre El Salvador e Honduras, no conflito que ficou conhecido como a “Guerra do Futebol” ou a “Guerra das Cem Horas”. Foi um conflito armado entre El Salvador e Honduras que durou quatro dias (de 14 a 18 de julho de 1969) e que foi exposto ao mundo pelo jornalista polonês (e possível agente soviético) Ryszard Kapuscinski em seu clássico A Guerra do Futebol.
O ponta-pé derradeiro
É verdade que a disputa futebolística só foi o ponta-pé derradeiro, pois os dois países, desde suas respectivas independências em 1821, já tinham uma relação política instável e tiveram seus níveis de hostilidade aumentados drasticamente por conta de interesses conflitantes das elites nacionais. Como, por exemplo, a disputa pela formação do Mercado Comum Centro Americano (MCCA); a declarada ambição salvadorenha em conseguir uma saída para o Oceano Atlântico; a crescente imigração de milhares de salvadorenhos para Honduras e principalmente a reforma agrária hondurenha, feita no início de 1969, que forçara a expulsão de camponeses salvadorenhos. O governo Hondurenho chegou a decretar que as empresas hondurenhas não tivessem mais de 10% de salvadorenhos em seus quadros e que os salvadorenhos também não podiam escriturar terras em Honduras.
E em junho de 1969, uma série de três partidas de futebol entre as seleções das duas nações, válidas pelas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1970, que seria realizada no vizinho México esgarçaria a situação. Durante as partidas pessoas nos dois países foram expulsas, perseguidas e assassinadas, levando os dois países a romperem relações diplomáticas e à guerra.
As partidas:
Placar
Data
Local da partida
Honduras 1 x 0 El Salvador
08 de junho de 1969
El Salvador 3 x 0 Honduras
15 de junho de 1969
El Salvador 3 x 2 Honduras
27 de junho de 1969
As partidas foram realizadas sob forte tensão. Na primeira, realizada em Tegucigalpa, capital hondurenha, a equipe de El Salvador sofreu todo tipo de pressão da torcida local, antes e durante o jogo. Acabaram derrotados nos últimos minutos da partida por 1 a 0.
A reação dos salvadorenhos foi violenta, com protestos, quebra-quebra e tudo explodiu quando a adolescente Amélia Bolamos cometeu suicídio revoltada com o resultado da partida e principalmente com a “violência” hondurenha..
O suicídio de Amélia comoveu El Salvador e seu funeral foi uma catarse de nacionalismo e ódio, chegando a ter um cortejo militar e a ser televisionado para todo o país. Os meios de comunicação de massa, aliás, jogaram ainda mais os vizinhos uns contra os outros jorrando gasolina nas tensões já existentes.
A presença da seleção de Honduras em São Salvador foi um verdadeiro inferno. Uma bandeira de Honduras foi queimada, seu hino desrespeitado e os visitantes tiveram que se dirigir ao estádio em um veículo blindado para fugir do ódio dos salvadorenhos. A violência nas ruas atingiu dezenas de torcedores hondurenhos, provocando algumas mortes.
Em Honduras, como resposta, a milícia paramilitar “Mancha Brava” atacou milhares de salvadorenhos, forçando a fuga de muitos deles de volta para seu país. O governo militar de El Salvador chegou a acusar os hondurenhos de genocídio na ONU e os países romperam relações diplomáticas e comerciais.
A vitória de El Salvador por 3 a 0 na partida de volta forçou a realização de uma partida de desempate, a ser realizada em campo neutro no México.
No dia do jogo decisivo, na Cidade do México, em 27 de junho, enquanto as duas seleções se enfrentavam, no Estádio Asteca, os dois países mobilizaram as suas tropas e fecharam suas fronteiras.
El Salvador garantiu sua vaga Copa do Mundo com um gol na prorrogação após empate de 2 a 2 no tempo regulamentar. Mas o conflito já se tornara inevitável.
Os combates
Os combates armados entre as forças militares nacionais iniciaram-se na manhã de 14 de julho com um ataque aéreo de El Salvador seguido de uma invasão por terra.
O conflito terminou sem vencedores, só com vencidos, apenas quatro dias depois, na noite do dia 18 de julho; após sucessivas pressões por parte da Organização dos Estados Americanos (OEA); e principalmente dos EUA, que em plena guerra-fria, não estavam gostando nada de ver um conflito armado entre dois governos aliados, ainda mais em seu quintal.
O cessar fogo só entrou em vigor em 20 de julho. As tropas salvadorenhas somente abandonaram o território ocupado no início de Agosto e um tratado de paz definitivo só foi assinado mais de uma década após o cessar-fogo negociado pela OEA.
As forças armadas envolvidas na guerra foram: por El Salvador 20.000 do exército e 1.000 da força aérea; por Honduras 12.000 do exército e 1.200 da força aérea. No total, as cem horas de conflito deixaram quatro mil mortos e milhares de camponeses desabrigados.
PS - No ano seguinte El Salvador disputou a Copa do Mundo, disputada no México e vencida pelo Brasil, e não passou da primeira etapa, tendo disputado três partidas, sofrendo nove gols e não marcando nenhum.

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1 Comentários:

At 3:49 PM, Anonymous Anônimo escreveu:

Interessante e, ao mesmo tempo, triste esta história. Mas há lições bonitas do futebol contra a guerra, como a excursão do Santos de Pelé e Coutinho pela África na década de 60. Vários países africanos fizeram um cessar-fogo para ver o jogo de futebol.

 

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